Antes de qualquer organização poder colher os benefícios econômicos da inovação aberta (“open innovation”), ela deve superar uma série de desafios legais, operacionais e culturais. Neste artigo, Peter von Dyck aborda os três principais obstáculos para a inovação aberta: gerenciar aspectos de propriedade intelectual e outros riscos legais, processar ideias rapidamente e estabelecer uma estrutura interna eficiente.

Em um esforço para criar novos produtos de forma mais eficiente e eficaz, muitas empresas estão regularmente e de forma formalizada incentivando ideias de fontes externas. Estas fontes externas incluem indivíduos e organizações, como clientes e fornecedores. Para fazer isso, nos últimos anos temos visto algumas das maiores empresas multinacionais do mundo – de P&G a IBM e 3M – implementando programas de “inovação aberta”. Na verdade, acredita-se que cerca de um terço das maiores empresas do mundo utiliza alguma forma de processo de ideia não solicitada principalmente porque os benefícios incluem: maior diversidade de ideias; menores custos de pesquisa e desenvolvimento; e pipeline de novos produtos melhor abastecido.

No entanto, antes de qualquer organização poder colher os benefícios econômicos da inovação aberta, ela deve superar uma série de desafios legais, operacionais e culturais.

Os três principais obstáculos para a implementação bem sucedida de programas de inovação aberta são:

  1. Gerenciar aspectos de propriedade intelectual e outros riscos legais
  2. Processar ideias com rapidez e eficiência
  3. Estabelecer uma estrutura interna eficiente

Programas de inovação aberta estão fadados ao fracasso se esses obstáculos não forem abordados e superados no início do processo.

Superando Desafio No. 1: Aspectos de Propriedade Intelectual e Riscos Legais

A propriedade intelectual é geralmente considerada o aspecto mais problemático e complexo para as empresas instituindo programas de inovação aberta. O potencial para a disputa sobre direitos de propriedade intelectual pode obstruir o desenvolvimento de inovações apresentadas por fontes externas.

O fato de que as organizações precisam de informações suficientes para tomar uma decisão sobre inovações, invenções e ideias apresentadas, estando cientes das questões legais e de confidencialidade é um verdadeiro paradoxo.

A questão da propriedade intelectual é mais premente nas indústrias centradas em patentes, como alta tecnologia, aeroespacial, farmacêuticas e dispositivos médicos. O fato de que as organizações precisam de informações suficientes para tomar uma decisão sobre inovações, invenções e ideias apresentadas, estando cientes das questões legais e de confidencialidade é um verdadeiro paradoxo. Indivíduos e organizações que apresentam ideias enfrentam o mesmo problema: buscar ajuda na comercialização de uma ideia requer que inventores apresentem a sua tecnologia para uma empresa através de um programa de inovação aberta. O inventor quer fornecer informação suficiente para facilitar a compreensão da empresa sobre a tecnologia – e, principalmente, o seu valor – enquanto protege as principais informações vitais para uma patente bem sucedida. Os riscos legais incluem o potencial para futuras disputas sobre a posse de PI submetida, especialmente se a propriedade intelectual recebida for muito semelhante à pesquisa interna existente.

Com isso em mente, é vital que o programa de inovação aberta da empresa seja concebido para aceitar a informação adequada. A chave do sucesso é o controle da quantidade e tipo de informações apresentadas para amenizar as apreensões do pequeno inovador e limitar o risco de litígio da empresa que recebe.

As empresas implementando programas de inovação aberta podem controlar os custos e potenciais obrigações, utilizando um sistema automatizado para guiar os geradores sobre o que divulgar, o que não divulgar e como divulgar as informações. Ele também documenta o histórico de comunicação entre empresa e inventor, o que é extremamente importante para evitar litígios posteriores.

Desde que a Lei América Inventa (“America Invents Act“) entrou em pleno vigor em março de 2013, a proteção da propriedade intelectual do gerador tornou-se ainda mais vital, e pode construir a reputação da empresa receptora como uma organização que respeita o inovador e não está tentando tirar proveito das informações apresentadas.

Superando Desafio No. 2: Processar Ideias de Forma Eficiente

Uma medida de sucesso de inovação aberta é a quantidade de ideias apresentadas. No entanto, este sucesso cria um grande desafio quando o grande volume de ideias dificulta o processo de revisão e tomada de decisões em tempo hábil. Sem uma estratégia, a desorganização pode facilmente ocorrer e levar muitas empresas receptoras a deixar de lado ou abandonar completamente os esforços de inovação aberta.

A solução: um processo de triagem estruturado que permite a todas as submissões de ideias solicitadas e não solicitadas serem filtradas e gerenciadas, e as ideias de qualidade serem postas em prática de forma rápida e eficiente. Um processo de filtragem é executado de forma mais eficaz quando a equipe de inovação aberta desenvolve e automatiza um forte conjunto de critérios para classificar as submissões, o que torna os programas de inovação aberta ainda mais eficientes e eficazes.

A importância de ser capaz de separar potenciais vencedores dos perdedores tão rapidamente quanto possível não pode ser subestimada. O retorno de uma empresa na inovação pode ser medido por custos de processar, identificar e selecionar aquelas ideias. Quando as inovações são processadas e identificadas mais rapidamente, o tempo de lançamento no mercado é reduzido, aumentando o retorno sobre inovação da inovação aberta da empresa.

Mesmo com apenas um punhado de submissões selecionadas para revisão posterior, algumas terão maior potencial comercial do que outras. O estabelecimento de fortes critérios de avaliação – como encargos regulatórios, tamanho do mercado e requisitos de fabricação – permite que as submissões sejam pontuadas e classificadas pelo valor do negócio. Mais uma vez, a automatização deste processo (em oposição a uma avaliação manual demorada) cria grande eficiência.

Superando Desafio No. 3: Estabelecer uma Estrutura Interna Eficiente

Como todas as grandes ideias, o diabo está nos detalhes. As empresas não podem simplesmente lançar um programa de inovação aberta e esperar que grandes ideias comecem a percorrer seu caminho ao pipeline de desenvolvimento de produtos. Sem uma estrutura interna estabelecida, não há nenhum mecanismo organizado para aceitar e agir sobre as submissões solicitadas e/ou não solicitadas, e muito menos para acompanhar o programa e aferir o desempenho.

Um programa de inovação aberta com uma forte estrutura interna é aquele que:

  1. solicita ideias efetivamente;
  2. revisa de ideias em tempo hábil;
  3. toma decisões se deve ou não prosseguir a submissão com a mesma eficiência; e
  4. comunica regularmente com o inovador sobre o status da submissão.

Os benefícios são ter uma estrutura interna – normalmente uma combinação de pessoas e tecnologia – ajudar a garantir que as melhores ideias sejam empurradas para a cadeia e ajudar a proteger contra a litigância de PI. De acordo com um estudo de 2012 da Forrester Research, a maioria das empresas que implementaram programas de inovação aberta criaram equipes de entre três a cinco pessoas para administrar e implementar o seu programa.

A estrutura oferece uma maneira formalizada e padronizada para ideias serem submetidas, garantindo que todas as ideias de fora comecem em pé de igualdade dentro de uma organização. Um componente-chave: Um portal de submissão de ideia dedicado, que fornece uma ampla gama de informações sobre o programa de inovação aberta e como ele funciona. O portal online também pode dissuadir as pessoas de enviar informações confidenciais por meio de veículos de comunicação não controlados, tais como e-mails, casualmente em conferências ou diretamente através da página web Fale Conosco no site da empresa, todos os quais podem inadvertidamente expor a empresa a riscos legais.

O processo de estruturação envolve o estabelecimento e a aplicação de procedimentos da empresa ao longo das etapas do processo de inovação aberta. Este processo estabelece pré-requisitos ao gerador, como foco de tecnologia (p.ex. ter uma patente ou patente pendente em uma tecnologia), ou a aceitação dos termos e condições legais da empresa receptora. E-Zassi recomenda que programas de inovação aberta utilizem perguntas e respostas estruturadas para controlar o conteúdo enviado, juntamente com um formato de suporte a decisões de negócios com funções de comparação e análise automatizadas para orientar a tomada de decisão.

Conclusão

Se inovação aberta fosse fácil, toda empresa estaria fazendo, e fazendo bem. O fato de que é difícil, dá aquelas com implementações bem-sucedidas uma vantagem competitiva. Formalizada pelo professor da Universidade de Cal-Berkeley Henry Chesbrough, em 2003, a inovação aberta tomou conta na América corporativa e está se tornando uma parte importante dos esforços de desenvolvimento de produtos e serviços da maioria das empresas nos próximos anos. Superar os três principais obstáculos descritos aqui é uma chave para o sucesso.

Por: Peter von Dyck | Tradução por: Filipe Costa

About the Author

Peter von Dyck é fundador e CEO da eZassi, fornecedor líder de software de Inovação Aberta (“Open Innovation”) que expande o alcance das iniciativas de ideação enquanto protege os direitos de propriedade intelectual da empresa. Peter pode ser contatado por p.vondyck@e-zassi.com.

Imagem: Idea escape form the cage por Shutterstock.com